Barbie, um fenômeno que vai muito além da campanha de marketing milionária do filme

04 de agosto de 2023

Por admin

Foto Barbie, um fenômeno que vai muito além da campanha de marketing milionária do filme

Barbie, um fenômeno que vai muito além da campanha de marketing milionária do filme 

Quando Margot Robbie e Ryan Gosling nasceram, os bonecos que eles representam nas telas já eram sucesso absoluto (e geravam milhões de dólares em faturamento para a Mattel, sua fabricante) há décadas.

Independentemente da qualidade do filme, a nova “Onda Barbie” é, obviamente, o resultado de uma milionária campanha de marketing, como poucas vezes vista antes, mesmo se comparada à divulgação de filmes como os da série Harry Potter, Senhor dos Anéis, Avatar ou Star Wars. O frisson causado antes mesmo da estreia foi um fenômeno sem precedentes, e o assunto ainda continuará ocupando a mídia mundial, e as rodas de conversa, por um bom período (e com certeza terá direito a um 2º round quando começar a temporada de premiações do ano que vem).

O novo filme é apenas mais um capítulo na trajetória da boneca, lançada em 1959, e cujo sucesso é incontestável ao longo de seus 64 anos de existência.

Mas a origem da Barbie tem uma história fascinante, não muito conhecida, que envolve questões de marketing, patentes e propriedade intelectual. E é sobre isso que falaremos.

Inspiração? Homenagem? Referência? Não: cópia mesmo!

Na verdade, Barbie é, digamos, a “versão americana” (eufemismo para cópia) de Lilli, uma boneca criada em 1953, na Alemanha. Em 1959 a Mattel lança a Barbie nos Estados Unidos, e o resto é história. Mas uma história com algumas valiosas lições de marketing e de propriedade intelectual.

A princípio, a Barbie sofreu resistência por parte dos executivos (homens) da Mattel, que não acreditavam no potencial da boneca, e consideravam arriscado lançar um brinquedo com formas femininas adultas (já que até então as bonecas eram apenas em forma de bebês ou crianças). Pesava também o fato de Lilli, a boneca original, ser um brinquedo para adultos na Alemanha. Porém, Ruth Handler, uma das fundadoras da Mattel, e responsável por levar a boneca Lilli para os Estados Unidos, não se deixou abater, pois entendia que as meninas, que ela enxergava como público-alvo da Barbie, não teriam o mesmo tipo de percepção maliciosa dos homens adultos que mandavam na Mattel. Insistiu no que acreditava e provou que estava certa.

Que lição tiramos disso?. Se você tem certeza de que está focando no público-alvo correto, mas existem dúvidas e questionamentos quanto a isso, vá a campo, pesquise diretamente com o público-alvo que você acredita, confirme estar mirando corretamente, invista e acredite. Poucas coisas funcionam tão bem quanto um produto pensado e lançado para o público certo.

Nos vemos nos tribunais

Mas e a questão da Barbie ser uma cópia da Lilli? Ficou por isso mesmo? Esse é um outro capítulo interessante da história.

Contrariando as expectativas pessimistas, a Barbie foi um sucesso instantâneo ao ser lançada nos Estados Unidos, em 1959. Por ser basicamente uma cópia da boneca alemã, com pouquíssimas mudanças, não demorou muito tempo para que a Greiner & Hauser, fabricante da Lilli, processasse a Mattel, em 1961 (por plágio de um mecanismo que permitia a articulação do quadril da boneca). O processo se arrastou por 2 anos e, em 1963, a questão foi resolvida fora dos tribunais, por valores que nunca vieram a público. No ano seguinte a Mattel comprou da Greiner & Hauser os direitos autorais e de patente da Lilli, por valores também mantidos em segredo, encerrando assim o assunto.

Mas quando se lida com esse tipo de questão (e de valores), será mesmo que os problemas se resolvem? Até quando?

A Greiner & Hauser foi à falência em 1983, porém, em 2001, quase 40 anos após a compra da patente da Lilli pela Mattel, o liquidatário da empresa alemã abriu um processo alegando que a Mattel fraudou a G&H no contrato de venda de 1964, e pleiteando milhões de dólares em royalties sobre todas as bonecas Barbie vendidas desde 1964. Porém, 2 anos depois a Mattel venceu mais essa disputa judicial.

Esqueletos no armário cor-de-rosa

Um império foi construído pela Mattel, atualmente a maior fabricante de brinquedos do mundo, a partir do nome Barbie e tudo que deriva desse universo, há muito não mais restrito apenas às bonecas. Mas onde nem tudo são flores… Barbie já “nasceu” com graves problemas éticos e jurídicos, envolvendo patentes e propriedade intelectual, que o tempo (e milhões de dólares) acabaram resolvendo. Mas o armário da boneca, além de roupas cor-de-rosa, tem também vários esqueletos e segredos bilionários que, muito provavelmente, ninguém jamais saberá ao certo quais são.

“Por esta razão, os autores e titulares de direitos de propriedade industrial devem ficar atentos em protegê-los, realizando os registros necessários e contratos bem estruturados de licença e cessão de direitos”, afirma Luiz Levy, responsável pela área de Propriedade Intelectual do Lacaz Martins, Pereira Neto, Gurevich & Schoueri Advogados.