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Fonte: Portal ClienteSA

Nos últimos anos, os comitês de marketing têm se tornado comuns nos escritórios de advocacia brasileiros. Inspirada em uma prática já consolidada nos Estados Unidos, a ideia é nobre e busca reunir sócios de diferentes áreas e gestores internos para contribuir com a estratégia de marketing e facilitar a interlocução com as agências especializadas. Na teoria, esse grupo multidisciplinar deveria dar agilidade, alinhar expectativas e centralizar decisões, mas, na prática, muitas vezes acontece o oposto.

Quando o comitê se transforma em um espaço com excesso de opiniões, sem clareza de papéis e responsabilidades, o resultado é paralisante. Cada integrante faz alterações em um texto, um post ou uma campanha, tentando adequar o tom ao próprio ponto de vista. A versão original, que tinha voz, energia e conexão com o público, desaparece em meio a dezenas de edições. O conteúdo final torna-se burocrático. O que era estratégico e criativo fica apenas “seguro” e, portanto, invisível.

Não se pode negar que comitês podem trazer benefícios. Eles centralizam as informações do escritório, evitam duplicidade de esforços e ajudam a alinhar a comunicação de diferentes áreas. Quando bem estruturados, também podem ser um espaço de troca de ideias estratégicas, contribuindo para o desenvolvimento de novas ações e fortalecendo a cultura interna de marketing.

O problema surge quando todos os integrantes têm poder de veto. “Muito cacique para pouco índio” costuma resultar em decisões lentas e desgastantes. Em vez de acelerar o trabalho das agências de marketing jurídico, os comitês acabam atrasando aprovações e esvaziando a proposta inicial. Essa cultura do consenso pode matar a ousadia, justamente em um mercado que precisa ser mais claro, humano e relevante em sua comunicação.

Não por acaso, profissionais de marketing jurídico relatam frustração ao lidar com comitês pouco objetivos. É comum ver projetos se arrastarem por semanas, com cada versão de um conteúdo passando por revisões intermináveis. Ao final, o que chega ao público é uma mensagem tão “politicamente correta” que não desperta engajamento algum.

A solução não é eliminar os comitês, mas repensar sua estrutura. É essencial definir quem toma a decisão final, quais são os critérios de aprovação e qual o real objetivo do grupo. Um comitê eficiente precisa ser estratégico, não operacional. Ele deve olhar para o “grande quadro”, deixando que especialistas, internos ou externos, executem o que sabem fazer.

Outro ponto é a representatividade. Quanto mais enxuto e diverso o comitê for, maiores as chances de que ele funcione. Cinco pessoas com foco estratégico tendem a ser mais produtivas do que quinze sócios tentando aprovar cada vírgula. Além disso, é importante estabelecer prazos claros e evitar que o comitê se torne um gargalo para a agência e para o time interno de marketing.

Os escritórios brasileiros podem aprender com a experiência norte-americana. Lá, após anos de tentativas e erros, percebeu-se que marketing por comitê não funciona quando cada decisão precisa ser consensual. Conteúdo seguro demais é conteúdo irrelevante. Por isso, a máxima deve ser clareza acima do excesso de cautela.

Afinal, o público-alvo quer ser informado e sentir confiança, não ler um texto que parece ter sido escrito para agradar a todos internamente. O marketing jurídico precisa ser assertivo, vivo e conectado. E isso só é possível quando há espaço para que as agências e profissionais especializados executem o trabalho com autonomia.

Enquanto os comitês de marketing não entenderem que sua função é direcionar e não controlar cada detalhe, corremos o risco de ver bons projetos naufragarem antes mesmo de ganhar visibilidade.

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O avanço das plataformas digitais e a flexibilização gradual das regras da OAB para a publicidade na advocacia despertaram um interesse crescente pelo uso de anúncios pagos. Ainda que o Provimento 205/2021 permita o patrocínio de publicações e o impulsionamento de conteúdo nas redes sociais, há limites rigorosos para evitar o caráter mercantilista e preservar a sobriedade que a profissão exige.

Para escritórios que assessoram empresas, a publicidade paga carrega riscos que vão muito além do custo de veiculação. A contratação de um advogado, especialmente no meio corporativo, continua sendo uma decisão fortemente baseada na confiança e na reputação. Um anúncio mal planejado pode transmitir a sensação de urgência na captação de clientes ou, pior, de desespero comercial, afetando a credibilidade e distanciando potenciais contratantes. Na advocacia empresarial, a construção de reputação é um processo de longo prazo, que dificilmente se sustenta apenas em campanhas de mídia paga.

Outro ponto relevante é a qualidade dos prospects gerados por anúncios pagos. Embora possam trazer volume de contatos, nem sempre esses leads têm o perfil ou a necessidade real de contratar o escritório. É comum receber demandas desalinhadas com a área de atuação ou com o ticket médio desejado, o que consome tempo da equipe e desvia o foco de oportunidades mais estratégicas. No caso de escritórios que atendem pessoa física, esse impacto costuma ser menos relevante, especialmente em áreas de grande volume, como previdenciário ou consumerista. Ainda assim, a seleção criteriosa e o alinhamento com o público-alvo são fundamentais para evitar desperdício de recursos.

As diretrizes da OAB reforçam que o patrocínio de conteúdo só é permitido quando não houver oferta direta de serviços, devendo ter caráter exclusivamente informativo ou educativo. Isso significa que impulsionar um artigo jurídico, promover um webinar ou divulgar um evento de interesse público é aceitável, desde que o material mantenha sobriedade e respeite os princípios éticos da advocacia. Formatos com apelo comercial explícito, promessas de resultado ou linguagem sensacionalista são vedados e prejudicam tanto a conformidade legal quanto a imagem institucional.

No fim, a discussão sobre publicidade paga na advocacia não se limita a poder ou não anunciar. A questão central é como e por que anunciar. Uma estratégia mal conduzida pode gerar mais ruído do que resultado, entregando leads desqualificados, desgastando a imagem e desperdiçando investimentos. Mais do que investir em cliques, o verdadeiro desafio é investir em confiança, relevância e autoridade, valores que nenhuma campanha, por mais segmentada e bem planejada que seja, consegue comprar.